O príncipe herdeiro que insistiu em desafiar o destino, se é que tal existe e nos comanda. As motivações em discurso directo e final do seu assassino. O desespero, cruel e voraz, da guerra das trincheiras. A cidade sitiada, por montanhas no horizonte e cadáveres na rua, sob a mira de snipers. O ressoar, década após década após década, da encruzilhada dos conflitos étnicos. Os traumas e os fantasmas de quem lá permaneceu e daqueles que não quiseram regressar.
Estas são algumas das perspectivas que (des)constroem "Les Ponts de Sarajevo", manta de retalhos de treze realizadores sobre a cidade-cerne de alguns dos (senão todos?) maiores conflitos do século XX. Revelam conhecimento, instigam reflexão: é, de facto, deveras impressionante e assustador a evolução dos acontecimentos que culminaram em tão diferentes e horríveis fins: as Grandes Guerras, a Guerra na Bósnia, os genocídios...E uma das curtas é especialmente acutilante nessa análise...e simultaneamente tão simples...uma conversa entre um casal, na cama, à volta do livro "Das Spektrum Europa", que ultimamente não é mais que um conjunto de estereótipos sobre os diferentes povos europeus, um eco dos perigos dos nacionalismos. Que culmina na visão do cemitério que se estende por Sarajevo, na curta "Quiet Mujo", que tem tanto de comovente como de desconcertante! Por último, uma nota negativa para "The Bridge of Sighs" de Godard, que me pareceu apenas uma incursão espalhafatosa, egocêntrica e sem real significado. Termino com um elogio para as sequências animadas que antecedem cada curta, metáforas do percurso de instabilidade e construção de Sarajevo!
Perspicaz e perturbador, "Les Ponts de Sarajevo" assume-se como uma viagem de reflexão e consciencialização que merece ser percorrida, sentida e pensada!
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