26 fevereiro 2016

The Revenant



“On est tous des sauvages.” 





Em « The Revenant », domina o visceral e o agreste! Os elementos, os actos, as pessoas, a Natureza. A luz pertence ao passado, a esperança ao sonho. Tudo sufoca, tudo arrepia. Meros resquícios de bondade que se atrevam a surgir são rapidamente eliminados, sem misericórdia! 

“The Revenant”, sobrevivência movida pela vingança, é sem dúvida visceral na sua execução. A já célebre cena do urso é portentosa e deveras arrepiante, porque é realmente filmada de um modo intenso que nos transporta para o seu âmago: o ruído das garras, os jorros de sangue, o batuque da pata desejosa de esmagar o crânio…Ou a cena inicial do ataque dos índios Ree ao grupo, turbilhão de setas, balas, sangue e gritos. Mas até os momentos mais pausados assumem uma fatalidade perturbadora e sem compaixão. Falo da respiração alterada em sintonia com o movimento das nuvens, da manada de búfalos em debandada na imensidão da neve, da insignificância dos homens face ao jugo da Natureza…desconcertante! 





Para tal, muito contribui a asfixiante cinematografia de Emmanuel Lubezki, de planos belos, vastos e complexos, que esquece a luz em primazia do encoberto e do saturado. Em termos narrativos, a vingança é o motor e o destino do desejo de sobrevivência do protagonista Glass. Nada de propriamente novo, não fosse o extremismo que esta sobrevivência assume: como referi anteriormente, tudo é visceral e agreste e nem homens nem Natureza mostram compaixão ou misericórdia. E esses momentos insuportáveis e gráficos tanto nos fazem revirar na cadeira como nos compelem a não afastar o olhar, ou o coração, de Glass! 

Glass, composição de Leonardo DiCaprio indubitavelmente marcante e assombrosa pela situação de extremo, de resiliência e desespero que teve que demonstrar! Contudo, é o inquietante Fitzgerald de Tom Hardy que nos persegue até ao fim, esmagando-nos com a mácula da sua crueldade, crueza e impiedade! 





Em “The Revenant”, rendi-me ao jugo de Iñárritu, prodigioso e perturbador, também ele sem compaixão nem misericórdia!


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