É um murro no estômago que como que nos drena todo e qualquer sentimento de esperança, de felicidade. Que nos rouba algo de nós para que nunca esqueçamos o que vimos. De que outra forma podemos reagir a tal sucessão de horror e monstruosidade?
“Nuit et Brouillard” foi um dos primeiros projectos a lidar abertamente com a realidade do Holocausto. É de forma crua e direi “descomplexada” que a retrata, intercalando de forma extremamente perturbadora a quietude do agora (1955) com o horror vivido nos campos de concentração. Um horror indescritível, inumano, ditado pela violência física e psicológica, pela perda de dignidade e pela perda da própria identidade. São os cadáveres emaciados, a longa extensão de cabelos femininos, os corpos esqueléticos. São os olhos abertos na morte, os objectos e roupas dos prisioneiros, os ossos e tecidos carbonizados. É um horror que nos persegue pela sua magnitude e calculismo, atormentando-nos não só com a perenidade das suas imagens mas também com a inevitabilidade das questões “Como foi possível que esta abominação tenha acontecido, como foi possível construir e ter posto em marcha esta incansavelmente eficaz máquina de morte?”.
Indiscutivelmente gráfico e chocante, o documentário de Resnais não se esconde do seu objectivo nem lamenta a sua frontalidade. Porque o seu efeito não nos deve nunca abandonar para que a memória deste horror nunca se desvaneça na “noite e no nevoeiro”.
“Il y a nous qui regardons sincèrement ces ruines comme si le vieux montre concentrationnaire était mort sous les décombres, qui feignons de reprendre espoir devant cette image qui s’éloigne, comme si on guérissait de la peste concentrationnaire, nous qui feignons de croire que tout cela est d’un seul temps et d’un seul pays, et qui ne pensons pas à regarder autour de nous et qui n’entendons pas qu’on crie sans fin.”
Excerto do texto de Jean Cayrol, narrado por Michel Bouquet no filme
(retirado de: http://www.cineclubdecaen.com/realisat/resnais/nuitetbrouillard.htm)
Sem comentários:
Enviar um comentário