04 novembro 2014

Gone Girl






Ela vira-se para ele, rosto perfeito e indecifrável, olhar fixo e impassível, prolongado com a promessa do inatingível. 

“What are you thinking? What are you feeling? 
What have we done to each other?”

“Gone Girl”, o livro, dissecou, de forma magistral e contundente, a temível possibilidade de não conhecermos realmente quem está ao nosso lado, a pessoa que consideramos a nossa “alma gémea”, numa estonteante e arrepiante viagem pela fragilidade e bestialidade das relações humanas, desde a questão “Amor: compromisso ou desafio?” à leviandade da sociedade e media actuais. 

“Gone Girl”, o filme, é a certeza de que a perfeição existe. Mais que um fiel discípulo, é uma vibrante e crua adaptação, construindo de modo avassalador o ambiente de incerteza e tensão da obra-mãe. Porque é em constante parte incerta que o filme nos coloca, duvidando e questionando: o que aconteceu, quem é bom e quem é mau, o que raio aconteceu mesmo, existem sequer bons ou maus nesta história? Não tinha a certeza se iria conseguir sentir tudo isto, uma vez que já tinha lido o livro, mas Mr.Fincher, senhor thriller, superou, se tal é possível, as minhas expectativas! 


“She may be the mirror of my dreams
The smile reflected in a stream
She may not be what she may seem inside her shell” 
(“She”, de Elvis Costello)


Ela. Incrível Amy. Amy Elliot Dunne. Perfeita. Arrepiante e soberba Rosamund Pike! Que assombro de interpretação, vertiginosa! Como é possível seduzir-nos e assustar-nos com apenas o seu olhar, direi até com o mesmo olhar, de dócil arrebatamento a determinação gélida? Ainda me sinto apaixonada, oops, digo, atordoada! Personagem dentro de personagem, máscara dentro de máscara, desde o beijo sob a nuvem de açúcar ao beijo sob a chuva de sangue, tudo é hipnotizante perfeição! 




Por sua vez, o ar “bronco” (perdoem-me os fãs e ele também, mas só tenho gostado de o ver como realizador) de Ben Affleck é de facto uma mais-valia na sua composição de Nick Dunne!

“Gone Girl” afirma-se como um magnífico e sufocante thriller. O trabalho de Fincher é irrepreensível e belo, tanto narrativa como visualmente, e aliado, mais uma vez, à magnética banda sonora de Trent Reznor e Atticus Ross, oferece-nos um filme verdadeiramente excepcional, que a visceralidade de Rosamund Pink eleva à condição de transcendência!


"I don´t have anything else to add. 
I just wanted to make sure I had the last word. 
I think I've earned that."



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