01 março 2017

Fantas Express: Land of Light e The Age of Shadows



Da infância estilhaçada à provação de um ideal maior… 



 LAND OF LIGHT 




Testemunho cru e avassalador, Land of Light paralisa-nos com o seu desarmante contraste entre inocência e maturidade, violência e brincadeiras, sonho e realidade, no confronto de uma infância devastada pela guerra na Síria. Essa guerra, como todas as outras, em que as crianças são o elo mais fraco, forçadas a sobreviver sem infância, forçadas a sobreviver apenas. Como quando assistimos ao momento em que, face à visão de uma família assassinada num ataque, a reacção imediata seja rebuscar pela casa por alimentos e objectos úteis. Ou ao desembaraço com que pegam numa arma. Ou quando, na cena final do documentário, ouvimos os seus argumentos sobre como dirigir esta narrativa. 
Por entre lágrimas e genuínos sorrisos, por entre tiros e canções, por entre destruição e esperança, Land of Light apresenta-se como um portentoso murro no estômago, arrastando-nos para uma realidade que não sendo desconhecida, obviamente, é muitas vezes comodamente esquecida por entre os míseros turbilhões do nosso plácido quotidiano. 



THE AGE OF SHADOWS 




Por entre sombras, uma figura ágil escapa-se da perseguição, de telhado em telhado, resistindo até não mais, até ao seu fim sacrificado. Por entre sombras, ultima-se uma revolução, pela independência, pela liberdade, por uma causa maior. Por entre sombras, os carrascos atarefam-se, é urgente silenciar tal ideal. Por entre sombras, criam-se alianças, desfazem-se acordos, sabotam-se conquistas, conquistam-se sucessos; quando a escuridão sufocante parecia total, mantém-se teimosamente viva a chama desse ideal maior. 

The Age of Shadows, para além de competente capítulo histórico, é acima de tudo exímio na construção de uma extraordinária atmosfera de suspense e ambiguidade que se prolonga por todos os seus 140 minutos. Traça uma aliciante e misteriosa narrativa, na qual questiona habilmente as noções de honra e lealdade das suas personagens, mantendo o espectador sempre em suspenso. Para além disso, apresenta-nos brilhantes interpretações de Kang-ho Song e Yoo Gong e deslumbra-nos com uma grandiosa cinematografia. 
Dono de uma intensidade vincada e arrebatadora, The Age of Shadows firma-se como um singular conto de resistência e integridade, na luta definidora por um ideal maior.


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