16 fevereiro 2010

Up in the Air


[Pode conter spoilers!]



“Up in the Air” começa exactamente aí: pelos ares, atravessando as nuvens, sobrevoando várias paisagens, ao som da fabulosa e vibrante “This Land Is My Land”, imprimindo-nos uma deleitável sensação de liberdade.

Liberdade é a quinta-essência de Ryan Bingham (interpretado por um subtil e magnífico George Clooney). O seu trabalho consiste em despedir outros, o que lhe permite viajar dum canto ao outro dos E.U.A, de empresa em empresa, de aeroporto em aeroporto. E assim, Ryan tornou-se, não só num perito em técnicas de downsizing, como igualmente um mestre neste estilo de vida: de facto, toda a sua vida cabe (orgulhosamente) numa pequena mala ou mochila, a sua casa é o conjunto de aeroportos e suites de hotel por que passa nos maravilhosos 300 e tal dias de trabalho (os restantes, de supostas férias, são um penoso sacrifício!) e a sua ambição é atingir o valor estratosférico de 10 milhões de milhas aéreas! Não será inesperado que surja uma atracção com o seu equivalente feminino, a profissional e decidida Alex Goran (Vera Farmiga, bela e natural), o que eleva ao expoente a satisfação que Ryan tem com o seu modo de vida… Até que o seu chefe decide “mantê-lo no chão”, seduzido pela enorme redução de custos que advém do plano proposto pela jovem e ambiciosa Natalie Keener (Anna Kendrick).

Estamos perante um excelente filme, com uma realização inspirada, um argumento (aparentemente) simples mas actual e surpreendente, interpretações fortes e uma banda sonora vibrante e reflexiva.




Clooney tem uma composição brilhante: se numa primeira parte nos deslumbra com todo o seu charme e carisma, posteriormente surpreende-nos com a vulnerabilidade e incerteza que a sua personagem sofre, arrancando uma das melhores interpretações que lhe conheço!

No entanto, é Anna Kendrick a grande revelação, constituindo, juntamente com Clooney, a alma e força do filme! A sua Natalie Keener, ambiciosa, contudo, inexperiente, tem tanto de caricato como de ingénuo e enternecedor! É através dela, do crescimento da sua personagem, por meio de acções e (in)decisões, que muitos dos acontecimentos se desenvolvem, que o filme cresce!






“Up in the Air”encaixa-se muito bem no presente clima de crise e incerteza económica. Aborda esse tema de uma forma bastante interessante e peculiar, ao ter como ponto de partida a personagem de Clooney e o seu trabalho como “downsizer”. Quando se foca nos desempregados (muitos deles são reais), sentimos o seu desalento, o seu desespero, a sua solidão ao terem que se encontrar e começar de novo.

A solidão é, de facto, o objecto subtil desta obra de Jason Reitman. E quem a carrega, senão Ryan Bingham? O homem que se gaba de e prega uma vida sem laços e sem compromissos, sejam afectivos, sejam materiais, acaba por se aperceber que está irremediavelmente só. E George Clooney é absolutamente magistral nesta reviravolta!

“Up in the Air” termina como começa: pelos ares. Mas não com os mesmos sentimentos de bem-estar ou liberdade que experimentámos inicialmente. Esses deram lugar a alguma resignação e tristeza (arrisco dizer) da parte do protagonista, mas também nossa.
E quando as nuvens se evaporam no negro do ecrã, somos conquistados com o testemunho cantado, simultaneamente sombrio e esperançoso, de Kevin Renick, ao longo dos créditos finais deste filme excepcional e sublime!

8 comentários:

  1. Ah, eu confesso que admiro a melhora na atuaçao do Clooney nestes ultimos 4 anos...e os filmes dele são reflexos disso.

    Abraço, sumida!
    seu blog é otimo!

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  2. Cristiano Contreiras,

    Obrigado! :) Estou a trabalhar para manter este blog no bom caminho ;)

    Sim,Clooney tem feito óptimos filmes nos últimos anos, provando ser mais que (apenas)um galã! E neste filme, está excepcional!

    Abraço

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  3. Up in the air torna-se um dos melhores filmes do ano devido ao argumento e às interpretações!

    A cena inicial e final estão espectaculares!

    Abraço
    http://nekascw.blogspot.com/

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  4. Nekas,

    Sim, são esses os 2 pontos fortes de "Up in the Air"! O argumento é brilhante e inovador e temos um trio de interpretações inesquecíveis, mas das quais destaco a de Clooney e a de Anna Kendrick, absolutamente irrepreensíveis!
    Pois, tanto o início como o fim são magníficos!

    Abraço

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  5. Ola :) (Tenho andado desaparecido...)
    Mais uma vez uma boa critica...Up in the air é de facto excepcional. À primeira vista poderia parecer uma simples comédia com alguns traços dramáticos, mas de longe é muito mais que isso, principalmente no argumento e nas representações (o forte do filme). Felizmente a academia concordou.. :P

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  6. Olá André ;)

    Obrigado :)

    Pois, é para mim um dos melhores do ano sem qualquer dúvida! O argumento é genial e as interpretações irrepreensíveis!
    E sim, é bom ver que a Academia ainda acerta ;)

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  7. Patrícia, foi um dos meus preferidos desta temporada! É mesmo um grande filme! :D

    Beijinho

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