Mad Men: A term coined in the late 1950’s to describe the advertising executives of Madison Avenue. They coined it.
As convulsões de uma época em mudança retratadas através do mundo da publicidade. Um mundo em que a palavra é mestra e a manipulação uma arte…e tão impregnada nestes homens que já a fazem um modo de vida.
Deixar-se envolver por Mad Men não é algo fácil…ou talvez o seja…afinal, acho que inconscientemente me rendi ao primeiro episódio; contudo, este aprimorado drama possui certas particularidades motivadoras de alguma repulsa inicial. Porque se os sixties nos fazem quase de imediato lembrar um ambiente boémio e revolucionário, também é verdade que escondem um lado mais negro e conservador, arrisco chocante…E Mad Men coloca logo todas as suas cartas na mesa: “It’s a man’s, man’s world”!
E nunca nos faz esquecer disso: doses largas de machismo e discriminação coabitam naturalmente com racismo, intolerância e anti-semitismo, numa série de comportamentos tão intricadamente presentes que arrepiam o espectador actual!
Roger: Have we hired any Jews?
Don Draper: Not on my watch!
Don Draper: I'm not going to let a woman talk to me like that!
Joan Holloway (about the typewriter): Now, try not be overwhelmed by all this technology. It looks complicated, but the men who designed
made it simple enough for a woman to use.
No entanto, convém não esquecer que essa era uma realidade e é, no mínimo, refrescante assistir a uma série que não cede aos clichés e ao politicamente correcto. Regra que se estende aos constantes hábitos de tabaco e álcool apresentados na série, de um excesso quase alarmante…
Não é apenas neste aspecto que Mad Men se distingue. Detentor de um ritmo muito próprio, desenvolve-se com uma cadência invulgar, aparentemente lenta, contudo minuciosa e desafiante, na qual cada cena, cada fala, cada silêncio ou cada expressão são excepcionais partes de um todo, no qual o pormenor é rei e senhor! Este cuidado traduz-se, em grande parte, nos estonteantes figurinos, no rigor da decoração, na distinta fotografia, na nostálgica e sempre apropriada banda – sonora que brilhantemente recriam todo o glamour e beleza da década de 60! Mas acima de tudo, converte-se em excelentes e ricos diálogos e numa densa, trágica e profunda caracterização das personagens.
Em Mad Men, ninguém escapa à ambiguidade moral, numa paleta controversa de variados e excitantes tons de cinzento!
Don Draper, a personagem principal, é um bem-sucedido publicitário em ascensão, na reputada agência Sterling-Cooper. Competente, bonito, charmoso, é o homem que as mulheres querem ter e que os outros querem ser! E ele sabe-o…e tão bem! Mas esta certa arrogância não é o seu único defeito. Manipulador, possessivo, sexista e por vezes intolerante, Don é um homem de contradições! Misterioso e reservado, esconde segredos do seu passado, passado esse fechado até mesmo à sua família! Família esta que é notório que ama (e muito) mas à qual parece desesperadamente incapaz de ser fiel, num rol de traições e afastamentos que acaba por debilitar o seu casamento. Soberbamente interpretado por um brilhante Jon Hamm, que lhe cede todo o seu carisma e força, Don Draper é assim uma personagem absolutamente magnética, para a qual somos inevitavelmente atraídos, mesmo conhecendo e desesperando com os seus defeitos e faltas, mesmo quando estes parecem encobrir totalmente a sua lealdade, a sua rectidão, o seu amor à família, mesmo quando o queremos e o conseguimos odiar!
No que considero um pólo marginalmente oposto ao de Draper, encontra-se Peter Campbell, para mim provavelmente a única personagem vazia de qualquer característica redentora! Convencido, egoísta, imaturo, egocêntrico e pérfido, o jovem Campbell quer tudo, quere-o já e fará tudo para o alcançar, não se importando com nada ou ninguém. Deveras detestável!
Num mundo de homens, saturado e sufocante, é com prazer que vemos surgir duas fortes personagens femininas, indícios da revolução de valores e de papéis que se aproximava! Primeiro, Peggy Olson: a inicialmente tímida e apagada secretária de Don Draper que com uma notável determinação e um inspirado trabalho se conseguir afirmar e sobressair neste universo perversamente masculino! Acredito que Peggy tenha ainda muito mais para nos mostrar e surpreender, até porque a sua dedicação e bondade escondem igualmente um certo egoísmo e fragilidade. Saudações a Elizabeth Moss, magnífica!
Depois, Joan Holloway: voluptuosa e sensual, é a força orientadora do escritório, que inteligentemente desarma todos os homens, uma mulher segura, moderna e independente!
Por outro lado, temos Betty Draper, ex-modelo tornada dona de casa e perfeita anfitriã, a típica esposa dos anos 50. De uma beleza à Grace Kelly, doce e encantadora, é no fundo uma mulher insegura, vulnerável, submissa, infantil e neurótica mas também cruel e inconsciente!
Se Hamm e Moss são quem, até agora, mais se destaca, são de salientar igualmente as composições de Christina Hendricks (Joan) e de January Jones (Betty), além da solidez do elenco mais secundário!
Situando-se na década de 60 e sendo mais que uma reconstituição histórica, Mad Men chama a si o classicismo de Hollywood, numa gloriosa e subtil homenagem! Desde a premente sensualidade, que suave e discretamente se insinua num mero gesto, numa mera expressão, num mero olhar, às próprias referências e memórias à cultura pop e cinematográfica!
Mad Men afirma-se desta forma como um complexo e poderoso drama, inteligentemente escrito, magnificamente concebido e excelentemente interpretado! E é tão gratificante poder assistir a um projecto desta imensa qualidade, arrebatador, requintado, fogoso, sério, enriquecedor!
Uma imaculada perfeição! Bravo!
Aqui me despeço!
A terceira e quarta temporada esperam por mim…
e eu já não consigo esperar mais!