22 fevereiro 2015

Deux Jours, Une Nuit






"Deux Jours, Une Nuit" é de uma (aparente) simplicidade desarmante!

Sandra, prestes a regressar ao trabalho após baixa médica por depressão, fica a saber de uma votação entre a sua permanência na empresa ou um abono de 1000 euros para os seus colegas: o seu chefe "apercebeu-se" que apenas 16 funcionários e algumas horas extras fazem o trabalho que anteriormente 17 faziam e, assim, de uma penada, o seu posto de trabalho fica em risco. Portanto, acompanhamos a sua demanda, no espaço de um fim de semana, em tentar convencer os colegas a votarem na sua permanência em detrimento do abono. História simples, n'est ce pas?

Ora bem, nem por isso! Nunca o seria verdadeiramente, pois esta modesta premissa esconde uma complexidade severa, angustiante e concreta: no abstracto, ninguém hesita em afirmar quão injusta é esta situação para Sandra e que o correcto é ceder o abono a seu favor; quando confrontados, poucos são os que mantêm esta atitude, ou porque precisam do abono (há famílias para sustentar, casas para arranjar, ou o que seja) ou porque consideram então injusto perder esse dinheiro para alguém que afinal até esteve afastada por doença e poderá não desempenhar bem as suas funções. Ou o que seja.






E é precisamente o modo cru e exigente como esta narrativa é filmada e interpretada que acentua esse dilema e torna o filme extraordinário! Acompanhamos a demanda desesperada e suplicante de Sandra: cada telefonema, cada bater de porta, cada conversa, cada confrontação, cada esperança e cada derrube, cada sorriso e cada lágrima, mostrados pelos irmãos Dardenne com angustiante proximidade, como um constante apertar de alma! E quão arrebatadora e sublime é Marion Cotillard? De olhar franco e melancólico, é o confronto do seu desespero com as réstias de perseverança, do seu desânimo com a sua dignidade, afundar-se novamente na depressão ou lutar por si, pelos seus direitos, pela sua pessoa? E é a incerteza da sua expressão, o inconstante arrastar do corpo, o ensaiado discurso que por vezes quebra face à realidade, a resiliência e assertividade que de tempos a tempos a possuem, as lágrimas escondidas ou o cantarolar "rock'n'roll", personificando e enfrentando um limbo de contradições e êxitos!





"Deux Jours, Une Nuit" é assim avassalador e soberbo, potenciador de reflexão e, de maneira simultaneamente intricada e discreta, um murro no estômago!


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