11 março 2014

The Eternal Return of Antonis Paraskevas (Fantasporto 2014)





Talvez um dos filmes que mais hesitante e dividida me deixou nos últimos tempos. Da desconhecida Grécia (para mim), chega o peculiar conto de um homem, outrora áureo apresentador de um talk-show matinal, que finge o seu desaparecimento de forma a capitalizar as audiências.

Isolado num hotel, a sua rotina é desoladora: alimenta-se de incontáveis pratos de esparguete; desbobina, de forma ausente, as características do hotel naquilo que deveria ser o relato da sua estadia; experimenta, vezes sem fim, e sem sucesso, a cozinha molecular; revisita o seu passado, assistindo em loop, aos DVDs com o seu best-off profissional. O seu único contacto com o exterior é igualmente tormentoso: a procura incessante de notícias sobre o seu suposto rapto. Tudo isto nos é mostrado uma e outra vez, com o protagonista, sempre de semblante carregado, a afundar-se progressivamente numa dúbia e depressiva condição.

"The Eternal Return of Antonis Paraskevas" constrói assim, de modo invulgar mas assertivo, uma dura crítica à sobre-exposição e manipulação mediática dos dias de hoje, não se alheando ainda da realidade económica do seu país. Ora quão sarcástica pode ser a sobreposição do estado mental do protagonista com as notícias relativas à intervenção do FMI em Portugal nos anos 80 e à entrada da Grécia no Euro?

Enquanto o filme manteve esta abordagem, apesar de algumas decisões definitivamente questionáveis ou estranhas, ainda me conseguiu manter interessada. Contudo, a sua porção final manifestou-se como precipitada e incongruente, abalando de forma significativa um filme que já carregava às costas uma estrutura deveras introspectiva e pausada e um tom por vezes pretensioso.


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