31 janeiro 2014

(As) Simetrias [14]








Em Atonement, a verdade sufoca por entre duas visões dos acontecimentos. A de Briony e a de todos os outros.


"I saw him. I saw him with my own eyes."






O que é que Briony viu? O que é que ela imaginou? Presa entre a ingenuidade e o ciúme, presa entre a imaturidade e o desejo de ser levada a sério. 





Presa entre a realidade e a ficção. A sua ficção.


29 janeiro 2014

12 Years A Slave







Há uma quietude desconcertante nas etéreas paisagens sulistas que tão sublimemente nos são oferecidas. O cândido pôr-do-sol, o voo de espontâneas aves ou os ramos que tocam na limpidez do rio não escondem contudo o horror que os circunda. Os paralisantes lamentos de uma mãe, a desesperada ânsia por um toque de afecto, o ressoar sangrento do chicote, a prepotência abjecta movida pela ira e ódio. Não. Antes convivem como centenários vizinhos, em disfuncional e imposta harmonia. Irrompemos, sem licença ou delicadeza, pela profunda América esclavagista. 

Na sua terceira longa-metragem, Steve McQueen, fiel a si mesmo, compõe um devastador e cru retrato da escravatura nos Estados Unidos, que fatalmente nos persegue e atormenta. Que dizer da já referida sobreposição entre a Natureza e violência? “That's Scripter!”, em perversa ironia. Ou da cena do funeral, catarse que ousamos comungar com Solomon? Daí não concordar que haja convencionalismo a assombrar esta obra. Há, sim, na minha opinião, uma substancial diferença para com os seus anteriores filmes: esta não é apenas uma luta de um homem só. “Hunger” e “Shame” estavam centrados nos seus protagonistas, que mesmo díspares, partilhavam no entanto uma miserável e desesperada solidão. Ora “12 Years A Slave”, embora seja obviamente a história de Solomon Northup, não pode assentar somente nesta personagem. Não ignorando a sua individualidade, é para mim inegável que a sua mágoa, a sua impotência e dor são também as de Eliza, as de Patsey, as de Abraham…as de incontáveis e anónimas vozes. Assim, mesmo não sendo o meu favorito é, sem qualquer sombra de dúvida, uma obra de admirável coragem, de arrasadora frontalidade e de extraordinária beleza. 






McQueen, notável maestro, dirige um trio de igualmente excepcionais interpretações. Chiwetel Ejiofor, com garra e comoção, demonstra de forma sólida todo o sofrimento e luta da sua personagem. Lupita Nyong’o, que intensa revelação! A sua terna Patsey, encurralada em impossível e trágica condição, é simplesmente avassaladora. E Michael Fassbender…bem, Fassbender constrói, num degradante crescendo, uma criatura que ultrapassa o vil, o cruel, o déspota, numa composição absolutamente arrepiante! 






Saí devastada. Que melhor elogio lhes posso oferecer?


16 janeiro 2014

The Hunger Games - Catching Fire




"Remember who the enemy is."






Passado um ano, regressamos à arena. Ou, verdade seja dita, e como Katniss dolorosamente se apercebe, nunca chegámos a sair do seu interior.
O segundo capítulo da trilogia " The Hunger Games" retorna em força. Tecnica e visualmente irrepreensível, explora de forma convincente e surpreendente as consequências dos eventos ocorridos nos últimos Jogos. Jennifer Lawrence retoma o seu papel como uma anti-heroína ainda mais destemida e atrevida. Pena é que a sua química com Josh Hutcherson não seja a mais flamejante.
Apesar disto, e sem querer revelar pormenores, "Catching Fire" supera entusiasticamente o seu antecessor, oferecendo-nos o que esse nem sempre mostrou: chama, muita chama!
E na espera que se segue, despeço-me com a questão: cantará o tordo por fim em liberdade?



14 janeiro 2014

Cinematograficamente Musicando (7)




Don't Stop Me Now 

(Queen - 1978)





A energética e contagiante música dos Queen protagoniza um dos momentos mais hilariantes e geniais da brilhante e tão "british" sátira que é "Shaun of the Dead".


07 janeiro 2014

Jagten (The Hunt)




The world is full of evil 
but if we hold on to each other, it goes away. 






E se o mal surgir da mágoa de uma criança? Mas “As crianças nunca mentem!”, ouve-se uma e uma e outra vez. Mais até do que “Não o fiz. Não sou culpado.” E se esta nuvem de ambiguidade ensombrasse todo o filme, eu não o iria recordar somente pela sua bucólica e singular cinematografia. Pena é que nem por momentos me tolde o juízo. Klara está a mentir. Sei que Lucas é inocente. E agora? Torna-se evidente que Thomas Vinterberg idealizou uma abordagem diferente. A caça. O homem íntegro e bom que toda a gente conhece torna-se a presa. Dúvidas, malícia e boatos cercam-no e atacam. A sua comunidade é agora o seu mais feroz predador. Talvez. Não sei bem. Não o cheguei a sentir. O sangue e lágrimas de Lucas acabam por não ser suficientes. Apesar da belíssima cena na igreja, em que um intenso e devastado Mads Mikkelsen quase me fez esquecer o terrível simplismo que contaminou uma tão promissora premissa. E, de súbito, o insípido e incongruente final confirma os meus receios: fui irremediavelmente defraudada.


06 janeiro 2014

Momentos (XXI)







"I'm not formed by things that are of myself alone. 
I wear my father's belt tied around my mother's blouse, 
and shoes which are from my uncle. 
This is me."

(Stoker - 2013)