Turbilhão na alma, tumulto no coração. Sôfrega de vida, ávida de paixão, mente despedaçada em inquieta insatisfação.
É assim a Florbela de Vicente Alves do Ó. Aliás, Bela, a mulher, porque Florbela, a poetisa, só no fim nos encanta com os seus versos. A poesia pertence assim a Vicente Alves do Ó, um sonho dentro de um sonho, num filme visualmente esplêndido e, pela sua natureza, deliciosamente subjectivo. Contudo, apesar da grandeza da imagem, este não seria o mesmo sem Dalila Carmo, simplesmente arrebatadora, fúria e amor em constante colisão! Albano Jerónimo e Ivo Canelas, não obstante a necessidade de um desenvolvimento mais completo das suas personagens, são, ainda assim, seus magníficos companheiros.
“Ser poeta é ser mais alto…” e aqui reside talvez a falha maior do filme. Alguma soberba contamina este retrato; para mim, visível principalmente naquela premonição sob a neve.
No entanto, tal não é, felizmente, definidor do filme, uma obra ousada e bela, sedutora e contagiante no seu âmago, espelho de uma mulher fora do seu tempo.