16 novembro 2011

Reacção ao Prós e Contras: "Quem decide os medicamentos que tomamos" de 14/11/11



Como farmacêutica, mas também como cidadã, e face ao que assisti, era impossível não reagir ao Prós e Contras desta semana. Por isso, aproveitei este espaço para o fazer.

Que fique desde logo claro: o farmacêutico é O profissional do medicamento. Tal como se pode considerar o médico o profissional da doença. Por isso, tendo como objectivo a saúde do doente, o passo ideal e lógico implicará uma colaboração activa e assertiva entre estes dois profissionais de saúde, não esquecendo a participação do próprio doente que deverá ser parte integrante do plano terapêutico. Mas agora repito: o farmacêutico é O profissional do medicamento. O que significa que é quem teve uma formação multidisciplinar e exaustiva que lhe permite conhecer as características do medicamento, como o seu mecanismo de acção e possíveis efeitos adversos, para além do seu processo de fabrico, e que o torna ainda o profissional mais qualificado para aconselhar o doente/utente, de forma responsável, consciente e clara. Ora, o médico não teve esse tipo de formação. Tal como o farmacêutico não tem a formação de um médico. Daí o farmacêutico não ter sequer o direito de interferir a nível do diagnóstico, que é função do médico. Por isso, com que legitimidade é que a Ordem dos Médicos interfere numa área que é da competência do farmacêutico, se não possui os conhecimentos necessários? Porque insiste em denegrir o trabalho do farmacêutico e afirmar que tem a formação adequada a nível do medicamento? 

Neste debate foram ditas muitas barbaridades pela parte do Bastonário da OM e dos médicos intervenientes. Desde desconfiarem de “alguns genéricos” e do seu processo de fabrico até porem em causa a competência do INFARMED, passaram uma mensagem alarmista, desproporcionada e sem fundamento. Primeiro ponto: todos os medicamentos genéricos têm que assegurar a sua bioequivalência, ou seja (de forma simples), demonstrar que possuem a mesma eficácia e segurança do medicamento original. Portanto a questão de genéricos com “diferentes qualidades” nem se devia colocar. E qual foi a fundamentação do Bastonário da OM relativamente a essas suspeitas? Nenhuma! Segundo, a indústria farmacêutica é regulada por normas internacionais de qualidade e boas práticas de fabrico. Não há cá medicamentos com excipientes duvidosos ou com demasiadas impurezas! Terceiro ponto, o INFARMED é um laboratório certificado, com capacidade técnica e científica. Daí que, e indo de encontro ainda ao primeiro ponto, não exista nenhum medicamento, genérico ou de marca, que não sofra um processo de avaliação e controlo da sua qualidade/eficácia/segurança antes de ser introduzido no mercado. Por outro lado, outras barbaridades nem merecem ser referidas novamente, tal o seu grau de ridículo, e por isso acrescentarei apenas que me assustou a forma banal com que uma médica descartou a sua responsabilidade de notificar o Sistema Nacional de Farmacovigilância com a desculpa de já não ter idade para aprender como se faz. Ou como se cita de forma leviana artigos científicos, pretendendo fazer da excepção a regra. 

Se o discurso dos médicos participantes me deixou revoltada, o mesmo poderei afirmar relativamente à moderação do debate. A jornalista Fátima Campos Ferreira demonstrou uma ausência total de preparação prévia e de rigor sobre o tema, realizando intervenções com falhas e incorrecções graves e de forma claramente tendenciosa. Vergonhoso! O público em geral, que não tem obrigação de conhecer o tema, tem contudo o direito de ser informado de forma responsável, clara e isenta, e tal não aconteceu completamente, devido a essa moderação e às intervenções muitas vezes inflamadas e pouco ou nada justificadas. 

Por último, terei que elogiar o discurso do Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, que, para além de defender a classe farmacêutica, também se revelou como defensor dos interesses do doente, que devem ser exactamente o foco da preocupação por parte do profissional de saúde. 

Termino o meu desabafo reforçando uma das ideias iniciais que referi. Para bem do doente, é essencial que haja uma cooperação funcional e harmoniosa entre o médico e farmacêutico. Assim, esqueçam o estatuto! Esqueçam o ego! Funcionem antes em conjunto, de forma a não prejudicar o doente!



Links 1 e 2 para o vídeo do programa


2 comentários:

  1. estava a ler o texto e a pensar que tinha de procurar isto para ver o programa é um assunto que me interessa e depois vi que tinhas feito esse trabalho ;)

    Quando estamos dentro dos assuntos é que notamos os erros todos, as más preparações, etc.

    Tenho de ver para comentar mas numa coisa é garantido que tens razão. Cooperação é o passo a seguir, não sou grande apologista de lutas de egos.

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  2. Pois, daí eu ter reforçado a ideia da cooperação que é essencial e só beneficia o doente...e no debate por vezes notou-se essa luta de egos...
    Mas vê os links Gabriel e depois a gente discute o tema ;)

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