28 novembro 2011

Hotel Rwanda




Dube: Why are people so cruel? 
Paul Rusesabagina: Hatred... Insanity... I don't know...




A pergunta fica em aberto, num crescendo de crueldade e horror. Cru, desconfortável, violento, Hotel Rwanda é uma obra francamente desarmante. E necessária. Tamanhas atrocidades nunca deveriam ser esquecidas...é simplesmente inacreditável pensar na desumanidade do ser humano...
Sem ser melodramático ou excessivo, o filme cumpre magnificamente essa função. O exemplo maior será talvez a interpretação de Don Cheadle, que, sobriamente, exprime de forma notável o conflito, o medo, a dor e a coragem da sua personagem.


Paul Rusesabagina: I am glad that you have shot this footage and that the world will see it. 
It is the only way we have a chance that people might intervene.
Jack: Yeah and if no one intervenes, is it still a good thing to show?
Paul Rusesabagina: How can they not intervene when they witness such atrocities?
Jack: I think if people see this footage they'll say,
 "oh my God that's horrible," 
and then go on eating their dinners.
[pause]
Jack: What the hell do I know?




Comovente e agressivo, Hotel Rwanda pauta ainda pela crítica à atitude da comunidade internacional, cega e cobarde, escondida entre artifícios, burocracia e indiferença. Basta lembrar-mo-nos dos discursos de Paul, o jornalista, ou do coronel Olivier, dois bastiões de esperança que célere e desamparadamente se esmorecem, face à inércia do Mundo. 

Esse que desviou o olhar, que continuou a comer ou que até mudou de canal; esse Mundo que partiu, resguardado das lágrimas e gritos de quem abandonou à barbárie e ao terror.


Breaking Dawn - Part One





Não lhes chamarei de expectativas mas confesso que estava com vontade de assistir a este penúltimo capítulo, não tanto pelos anteriores, mas por ter acabado por ler a saga completa.

E afirmo já que este devia ter sido mesmo o último capítulo, isto é, não deviam ter dividido o livro em dois filmes. Foi obviamente por meras razões lucrativas, um vez que só tornou a história sem ritmo e algo aborrecida. Passamos uma hora no casamento e na lua de mel de Bella e Edward e a hora seguinte a lidar com a gravidez de Bella. Foi excessivo, um filme apenas, com cerca de 2 horas e meia, seria o adequado para encaixar a história do livro. Até porque, com tanto tempo dedicado ao casal, acabaram por não desenvolver o conflito e crescimento de Jacob, o que iria acrescentar parte da tensão necessária ao filme. Eu até percebo o entusiasmo, o amor entre Bella e Edward foi finalmente consumado, se bem que até aí o trailer estragou o momento, ao revelar a cena "mais quente" (se lhe podemos chamar isso)! Mas repito, para mim foi excessivo e tornou o filme ligeiramente maçador. Por outro lado, os diálogos e algumas interpretações continuam a ser bastante pobres e existem algumas tiradas, principalmente do Jacob, que são verdadeiramente ridículas! No entanto, penso que, neste capítulo, Kristen Stewart demonstrou maior expressividade, o que, admitamos, já era necessário!

Concluindo, esta sempre foi uma saga dedicada aos fãs dos livros; obviamente que podia ser melhor construída,ainda que o material de origem não seja também nada de especial. Contudo, sempre pecou por ser exageradamente formatado e assumir que o seu público alvo não possa ser exigente.


21 novembro 2011

Flickam sam lekte med elden (The Girl Who Played With Fire)



“She felt so wretched that tears came to her eyes. 
But Salander never cried. She wiped them away.”




Não fosse por uma Noomi Rapace absolutamente magnética e nem a complexidade da personagem de Lisbeth Salander seria retratada seriamente neste "The Girl Who Played With Fire". 

Mesmo se não tivesse lido o volume original, seria peremptória a afirmar que este filme se encontra uns furos abaixo do seu antecessor. Uma realização amadora, um casting medíocre, pobres efeitos especiais. Mas acima de tudo, não se sente uma pinga de suspense, esse que nos envolvia e incomodava em "Millenium 1: Homens Que Odeiam as Mulheres" (e aí nem sequer conhecia a trilogia)! 

É desolador pensar no argumento de origem e vê-lo reduzido a um produto automatizado, incapaz de criar, para o espectador, uma atmosfera de mistério e tensão, e com um desenvolvimento mínimo das personagens e das relações entre elas! Por exemplo, o filme nunca explica por que razão Lisbeth deixa de falar com Mikael, quando sabemos muito bem que ela não é mulher de caprichos! 
Mas o pior foi mesmo aperceber-me que o suspense se evaporou e que o puzzle que nos devia deixar curiosos nos deixa apenas insatisfeitos e, a quem não leu o livro, talvez confuso...

Incomparavelmente inferior ao livro homónimo e ao seu antecessor, é seguro afirmar que "The Girl Who Played With Fire" nada mais foi que uma tremenda desilusão!


"Don’t ever fight with Lisbeth Salander. Her attitude towards 
the rest of the world is that if someone 
threatens her with a gun, she’ll get a bigger gun.” 



17 novembro 2011

The Adventures of Tintin: The Secret of the Unicorn





Acho por bem referir que não conheço o Tintin da banda desenhada. Lembro-me de ver os desenhos animados que passavam na televisão e assim tenho nada mais que uma vaga e superficial memória dos eventos e das personagens. Por isso, a minha crítica irá naturalmente cingir-se ao filme em si e não à adaptação...

E, assim sendo, a avaliação revelar-se-á como bastante positiva! Começo desde logo pelos créditos iniciais, uma deliciosa e engenhosa introdução! E depois temos, sem dúvida, um grande filme de aventuras! Uma trama não propriamente original mas desenvolvida de forma inteligente e eficaz; um ritmo intrépido, de descoberta em descoberta, por entre percalços e sucessos, que nos deixa sempre tão curiosos quanto entusiasmados; um humor constante, tão bem personificado no adorável e corajoso Milou, nos distraídos e trapalhões Dupont e Dupond e, claro, no capitão Haddock!





E, chegada a este ponto, tenho que louvar incansavelmente o trabalho fenomenal de Andy Serkis! Não que duvidasse das capacidades do actor que de modo tão perfeito encarnou Gollum, mas ainda assim foi surpreendente acompanhar um outra personagem tão "real" e bem trabalhada!






Nota final para a excelente técnica de motion capture, que para mim funcionou bastante bem, conferindo talvez mais "veracidade" às personagens e situações, complementado com o bom trabalho de vozes dos actores!

Concluindo, é notório que gostei imenso d' "Aventuras de Tintin"! Não podendo analisar a fidelidade à banda desenhada, considero-o antes um filme deveras emocionante e divertido, no qual, com evidente gosto, embarcamos inebriados de aventura!


16 novembro 2011

Reacção ao Prós e Contras: "Quem decide os medicamentos que tomamos" de 14/11/11



Como farmacêutica, mas também como cidadã, e face ao que assisti, era impossível não reagir ao Prós e Contras desta semana. Por isso, aproveitei este espaço para o fazer.

Que fique desde logo claro: o farmacêutico é O profissional do medicamento. Tal como se pode considerar o médico o profissional da doença. Por isso, tendo como objectivo a saúde do doente, o passo ideal e lógico implicará uma colaboração activa e assertiva entre estes dois profissionais de saúde, não esquecendo a participação do próprio doente que deverá ser parte integrante do plano terapêutico. Mas agora repito: o farmacêutico é O profissional do medicamento. O que significa que é quem teve uma formação multidisciplinar e exaustiva que lhe permite conhecer as características do medicamento, como o seu mecanismo de acção e possíveis efeitos adversos, para além do seu processo de fabrico, e que o torna ainda o profissional mais qualificado para aconselhar o doente/utente, de forma responsável, consciente e clara. Ora, o médico não teve esse tipo de formação. Tal como o farmacêutico não tem a formação de um médico. Daí o farmacêutico não ter sequer o direito de interferir a nível do diagnóstico, que é função do médico. Por isso, com que legitimidade é que a Ordem dos Médicos interfere numa área que é da competência do farmacêutico, se não possui os conhecimentos necessários? Porque insiste em denegrir o trabalho do farmacêutico e afirmar que tem a formação adequada a nível do medicamento? 

Neste debate foram ditas muitas barbaridades pela parte do Bastonário da OM e dos médicos intervenientes. Desde desconfiarem de “alguns genéricos” e do seu processo de fabrico até porem em causa a competência do INFARMED, passaram uma mensagem alarmista, desproporcionada e sem fundamento. Primeiro ponto: todos os medicamentos genéricos têm que assegurar a sua bioequivalência, ou seja (de forma simples), demonstrar que possuem a mesma eficácia e segurança do medicamento original. Portanto a questão de genéricos com “diferentes qualidades” nem se devia colocar. E qual foi a fundamentação do Bastonário da OM relativamente a essas suspeitas? Nenhuma! Segundo, a indústria farmacêutica é regulada por normas internacionais de qualidade e boas práticas de fabrico. Não há cá medicamentos com excipientes duvidosos ou com demasiadas impurezas! Terceiro ponto, o INFARMED é um laboratório certificado, com capacidade técnica e científica. Daí que, e indo de encontro ainda ao primeiro ponto, não exista nenhum medicamento, genérico ou de marca, que não sofra um processo de avaliação e controlo da sua qualidade/eficácia/segurança antes de ser introduzido no mercado. Por outro lado, outras barbaridades nem merecem ser referidas novamente, tal o seu grau de ridículo, e por isso acrescentarei apenas que me assustou a forma banal com que uma médica descartou a sua responsabilidade de notificar o Sistema Nacional de Farmacovigilância com a desculpa de já não ter idade para aprender como se faz. Ou como se cita de forma leviana artigos científicos, pretendendo fazer da excepção a regra. 

Se o discurso dos médicos participantes me deixou revoltada, o mesmo poderei afirmar relativamente à moderação do debate. A jornalista Fátima Campos Ferreira demonstrou uma ausência total de preparação prévia e de rigor sobre o tema, realizando intervenções com falhas e incorrecções graves e de forma claramente tendenciosa. Vergonhoso! O público em geral, que não tem obrigação de conhecer o tema, tem contudo o direito de ser informado de forma responsável, clara e isenta, e tal não aconteceu completamente, devido a essa moderação e às intervenções muitas vezes inflamadas e pouco ou nada justificadas. 

Por último, terei que elogiar o discurso do Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, que, para além de defender a classe farmacêutica, também se revelou como defensor dos interesses do doente, que devem ser exactamente o foco da preocupação por parte do profissional de saúde. 

Termino o meu desabafo reforçando uma das ideias iniciais que referi. Para bem do doente, é essencial que haja uma cooperação funcional e harmoniosa entre o médico e farmacêutico. Assim, esqueçam o estatuto! Esqueçam o ego! Funcionem antes em conjunto, de forma a não prejudicar o doente!



Links 1 e 2 para o vídeo do programa


08 novembro 2011

When there's no more room in hell, the dead will walk the earth...



...and they all be drawn to the mall!



Depois de "The Night of the Living Dead" e do seu final sem esperança, não antecipava nada deste género para a sua sequela! 

"Dawn of the Dead" está recheado de comédia...momentos negros e talvez perversos, sim, mas de comédia! Exemplos não faltam e possíveis leituras também não (atenção consumidores!), por isso termino dizendo apenas que, in a very twisted way, o Romero tem um sentido de humor bastante apurado!

02 novembro 2011

The Change-Up





Boa comédia, suportada pelas cativantes interpretações de Jason Bateman e de Ryan Reynolds e pela graciosa mas fugaz aparição de Olivia Wilde. A premissa, não sendo propriamente original, é desenvolvida inicialmente com largo à vontade e eficácia. O contraponto entre as vidas de Dave e de Mitch proporciona-nos fortes e sinceras gargalhadas. O problema é que o filme cai para o habitual happy ending, não resistindo aos clichés. Tivesse apostado em opções mais arrojadas (que não passassem apenas pela visão dos seios das mulheres dos nossos protagonistas)e talvez "The Change-Up" se afirmasse como uma sólida e refrescante comédia. Assim, e apesar de cada vez gostar mais de Jason Bateman ("The Switch" foi uma surpresa e depois descobri a famosa "Arrested Development") lamento dizer que estamos perante um entretenimento mediano. Agradável, sim, mas mediano.