O horror é imediato, chega-nos em fila descamuflada e mutilada. É o jugo dos cartéis de droga mexicanos, de que ouvimos falar de forma diluída e ocasional nas notícias.
Villeneuve filma a imensidão das paisagens, a multiplicidade dos carros em carreiro na fronteira, a aridez do horizonte, como espelho desta problemática. A praga que se espalha, disseminando morte e violência, cujo fim não se vislumbra.
"That's what happens when you cut a chicken's head off."
O plano é aparentemente simples. E progressivamente amoral, como descobrimos ao lado de Kate, numa composição tão destemida quanto frágil de Emily Blunt. Mal com mal se ataca, um mal menor para um bem maior. Magnificamente personificado por Benicio del Toro, numa interpretação que que faz do silêncio e do mistério os seus trunfos.
Sicario constrói a sua intriga de forma inteligente, numa lógica livre do "preto e branco" dos bons e dos maus. É desafiante e nunca gratuito. Robusto e nunca condescendente. Por isso não deixo de ter um sentimento algo agridoce para com o seu final. Pareceu-me surpreendentemente redutor e não pensei que o filme fosse enveredar por essa vertente de "vendetta". Julgo que tenho um qualquer problema com os finais de Villeneuve, aconteceu-me o mesmo com "Enemy".
Ainda assim, constitui apenas um pequeno percalço. Sicario afirma-se como um thriller sólido e desafiador, fortalecido pela exímia composição de del Toro, pela desoladora e bela fotografia e pela realização intrigante de Villeneuve. E sem dúvida pela desesperante constatação final: o horror mantém-se, a normalidade do dia-a-dia é apenas uma casualidade...