29 dezembro 2014

Joyeux Noël






O frio. A morte. A neve gélida e a lama viscosa. O medo. A doença. O desespero. O horror da trincheira no horror de uma guerra que ainda mal começara. O inimigo sempre à espreita; para existir guerra tem que existir um inimigo! E contudo, naquele Natal, a imagem do inimigo desvaneceu-se, os cânticos sobrevoaram as trincheiras e a terra de ninguém foi ocupada pela união, pela cumplicidade, pela esperança!

Joyeux Noël”, co-produção europeia, retrata de forma emocionante e sensível este episódio singular da História: a confraternização espontânea e não autorizada entre as tropas alemãs, francesas e britânicas em vários pontos de trincheira no Natal de 1914. E o filme é soberbo na apresentação dessa dualidade, desse contraste: comparemos a ferocidade das declamações feitas pelas crianças logo na cena inicial com a sinceridade do Merry Christmas, Frohe Weinachten e Joyeux Noël proferida pelos oficiais; ou a violência das baionetas e da artilharia com a generosidade com que os soldados trocaram comida, bebida, histórias e fotografias; ou a hipocrisia do sermão do bispo com a comunhão de todos os presentes naquela missa de Natal improvisada. Sempre magistralmente encenado, sempre brilhantemente representado. Diane Kruger, Daniel Brühl, Guillaume Canet, Benno Fürman, Gary Lewis, Alex Ferns…destacar alguém seria injusto… 

“Joyeux Noël” toca-nos ao coração de forma pungente e séria porque nos mostra e nos dá a esperança em acreditar que mesmo nos momentos mais negros e amargos existirá sempre uma réstia de humanidade que lutará por se impor.


23 dezembro 2014

Dracula Untold






As origens da mística e carismática figura. De Drácula filho do dragão a Drácula filha do Diabo, é este percurso sombrio que “Dracula Untold” pretende desvendar. 

Ora de verdadeiramente sombrio só possui a componente técnica, com uma fotografia eficaz em criar um ambiente gótico e pesado. Pelo contrário, a construção narrativa é algo débil, incapaz de fazer justiça ao peso desta personagem. E porquê, perguntarão? Em primeiro lugar, eu imaginaria o príncipe Vlad como uma personagem bem mais cruel e macabra e penso que nesta adaptação ele foi humanizado em demasia, perdendo parte da sua atracção. Eu até percebo a intenção por detrás desta escolha, que pretende partir do herói para o monstro, do sacrifício pela família e pela pátria para a maldição eterna. O problema, e aqui entra a segunda razão, é que esta humanização nem sequer é muito bem desenvolvida, sendo prejudicada quer pela sua esquemática rapidez quer pela inexistência de um sentido conflito moral. Ainda assim, terei que mencionar dois pontos positivos: o encontro na gruta entre Vlad e o Mestre Vampiro (Charles Dance ou, para os amigos, Tywin Grumpy Grampa Lannister) e a prestação de Luke Evans que, não sendo fantástica, também por culpa do já referido, é sem dúvida competente! 

Veredicto final? Entretenimento razoável, encabeçado pelo agradável Luke Evans, “Dracula Untold” peca apenas pela sua esquematização, que o impede de ser solidamente entusiasmante ou temível!


21 dezembro 2014

The Hunger Games: Mockingjay - Part One






Posso só falar desta primeira parte para o ano quando a metade final estrear? É que assim, que posso eu dizer? 

Repetitivo, Mockingjay – Part One é claramente prejudicado por esta divisão que lhe retira ritmo e fulgor. Quantas vezes é preciso mostrar (e sempre com o mesmo esquema) que Katniss está indecisa e receosa, que gosta do Peeta e está preocupada?! Quantas?! E por falar em Peeta, já referi que o moço é aborrecido? É que quer a ser salvo pela Katniss nos filmes anteriores, quer a actuar como rapaz propaganda do Capitólio neste, o único sentimento que me desperta é mesmo aborrecimento! E, já agora, espero que Cressida tenha maior destaque no próximo filme, porque ver a maravilhosa Natalie Dormer num papel tão passivo é definitivamente frustrante! 

Concluindo, esta primeira parte decaiu em qualidade e entretenimento, não se salvando nem com as prestações dos secundários de luxo Phylip Seymour Hoffman e Julianne Moore nem com a já tão falada prestação musical de Jennifer Lawrence! Para o ano voltamos à arena e espero que com chama!


18 dezembro 2014

The Strain


A crítica que se segue contém SPOILERS!








Confesso que era uma série que esperava com alguma ansiedade! Tinha gostado imenso do livro, capaz de construir uma narrativa original, tensa e empolgante a partir de um tema já tão imensamente badalado (falei nisso aqui), e ao volante da adaptação, como produtores e argumentistas, estariam nada mais nada menos que os seus autores! Ou seja, as minhas expectativas eram algo elevadas e, assim sendo, (aparentemente) justificadas.

E corri a ver o primeiro episódio. E…meh. Já lhe dediquei uma análise mas deixo um resumo: não me arrebatou como os primeiros capítulos que o inspiraram, porque mostrou em demasia, não criando nem dúvida nem verdadeiro suspense. Contudo, como o leitor é sempre um crítico mais aguerrido e como, apesar de tudo, até gostei da interpretação de David Bradley e do nível de gore apresentado, resolvi dar-lhe uma oportunidade!

E qual o veredicto final, perguntam vocês? DESILUSÃO! Sim, assim mesmo, em maiúsculas, maiúsculas de raiva e revolta! Como é que é possível? Como? Como é que partindo de material de qualidade e tendo como produtores/argumentistas os criadores da trilogia se faz isto? Não se enganem: estamos na presença de uma história sem um fio condutor lógico e coerente, de personagens construídas de forma oca (excepção feita a David Bradley e ao seu Abraham Setrakian e ainda a Richard Sammel e ao seu Thomas Eichorst), de uma narrativa ocupada por clichés e perdas de tempo quando o material de origem tem tanto por explorar…que desperdício!

Ora vejamos:

• O primeiro episódio, como já foi dito, falha claramente em criar a atmosfera adequada de tensão e mistério, ao preferir mostrar logo o Mestre e o ataque na morgue ao invés de nos apresentar todas aquelas questões e dúvidas sobre a “morte” do avião e o aspecto (exterior e interior) dos cadáveres que, no livro, sucessivamente nos aguçavam a curiosidade! E este foi o episódio realizado por Guillermo del Toro…e ao longo da série esse problema mantém-se…

• O momento escolhido para mostrar o eclipse foi simplesmente errado…fazia muito mais sentido como estava no livro, aliando a praticabilidade do momento com o seu misticismo e simbolismo!

• A relação entre Setrakian e Goodweather foi basicamente adulterada…no livro tornaram-se gradualmente mentor e aluno, formando-se até quase uma espécie de laço parental…enquanto na série senti sempre alguma desconfiança e por vezes animosidade de Goodweather para com o velho professor, o que prejudicou a evolução da história.

• Porque insistir na descrença sobre o que se está passar? Inicialmente até se percebe mas qual o sentido de ao fim de 8 episódios, depois de já terem sido atacados por vários strigois e os terem exterminado, depois de terem filmado um ataque de um strigoi e o seu posterior abate, depois de já terem assistido por inúmeras vezes às consequências da transformação em strigoi e assim confirmado as explicações de Setrakian sobre a praga, ainda acharem que uma cura é possível! Pior ainda, continuarem a receber as explicações do professor com uma mistura perfeitamente irritante de cepticismo e arrogância!

• Por falar em arranjar uma cura, e tendo em conta que a transformação em strigoi sempre foi retratada como um mecanismo de infecção vírica, a sério que dois epidemiologistas de referência tentaram salvar alguém arrancando meramente o, convenientemente único, (naquele momento) parasita do corpo do hospedeiro, e já passado um tempo considerável após o momento de infecção?

• Um flagrante exemplo de clichés e perda de tempo: a sério que passámos um episódio inteiro ( “Creatures of the Night”) encurralados num sítio vulnerável, a discutir sobre tópicos já explicados, à espera que mais e mais strigois chegassem, para que nos últimos 10 minutos arranjassem uma solução extremamente fácil para sair dali? Não, a sério, é que não é só mais um cliché, como foi retratado de modo simplesmente estúpido! Quer dizer, um dos strigoi quebra uma larga porção de vidro da porta, ele e os outros têm mais que tempo suficiente para entrar em força…e contudo, esse primeiro espera convenientemente no exterior até ser exterminado por uma lâmpada de UV-C, enquanto os outros não fazem o menor esforço para entrar!!!

• Tenho muito mal a dizer sobre a maioria das personagens mas a Dutch Velders é certamente a pior! Por que raio introduziram na história esta hacker duvidosa (com pretensões falhadas de Salander) para…wait for it…”deitar abaixo” a Internet? Porquê? Como? A sua relevância confirmou-se como não existente, pura e simplesmente! Devia ter sido logo sugada…

• As personagens de Ephraim Goodweather e Nora Martinez também deixaram muito a desejar. Corey Stoll ainda parecia promissor no primeiro episódio mas logo descarrilou para uma personagem aborrecida e incapaz de transmitir o seu desespero, para além de que a sua atitude para com Setrakian me irritou solenemente! Por sua vez, Mia Maestro foi simplesmente insípida ao longo de toda a série e a sua interpretação desvirtuou totalmente a personagem forte e pragmática do livro.

• Outro exemplo de péssima construção da narrativa: a transformação da Kelly Goodweather. Não teria sido bem mais emocionante mostrar esse processo só depois de ela aparecer a Zack e Eph? Assim assistimos à sua transformação, ficámos 2 ou 3 episódios sem saber mais nada e depois, bum, zero suspense e lá esta ela versão strigoi a ameaçar os seus “loved ones”?

• E ainda outro exemplo de desaproveitamento: o exército de strigois foi apresentado de estrondo mas depois foi simplesmente abandonado…mais valia terem-nos só mostrado num dos episódios finais…

• E chego à desilusão maior: o Mestre. A sua entrada em cena, o seu aspecto físico, o seu papel na evolução da história…tudo soube a pouco! Já me queixei que a sua apresentação foi um pouco anti-climática. Para piorar a situação, o Mestre é muito menos tenebroso que o descrito no livro: a parecença com o Mestre da série Buffy não lhe é favorável, tornando-o até mais ridículo que ameaçador. E, por último, senti que, ao invés de participar activamente na narrativa, foi a modos que encaixado quando desse jeito.

Enfim… Depois desta imensa lista, parece impossível descortinar algum ponto positivo no meio desta salgalhada! Contudo, tenho que deixar um elogio às prestações de David Bradley e Richard Sammel, que compuseram excelentes e cativantes personagens, e ainda à caracterização dos strigoi.


Concluindo, mesmo com a ressalva anterior, assistir a “The Strain” acabou por ser penoso. Ver o seu potencial desperdiçado episódio após episódio foi sem dúvida desmotivador e frustrante!


15 dezembro 2014

(As) Simetrias [16]


[Spoilers para a série The Strain]





Antes de publicar a minha crítica à série, relembro um dos raros momentos em que The Strain brilhou...falo de duas cenas distintas de transformação, no episódio "Gone Smooth":




Da revelação...




À ocultação...


O que acharam?


12 dezembro 2014

Nosferatu, eine Symphonie des Grauens






Mãos esquálidas. Dedos longos e afiados. Face delicada e tenebrosa. Mente e corpo obcecados na frágil figura feminina que espreita à janela. Sussurros, lendas e histórias, mortes misteriosas, pistas escritas a luz e sangue. Ninguém se atreve a dizer o seu nome. Nosferatu...





Inegável pérola do expressionismo alemão, "Nosferatu, eine Symphonie des Grauens", revela, já quase 100 anos passados, um vigor e uma alma invejáveis, aliados à magnífica presença de Max Schreck, que o tornam sem dúvida um clássico indescritível do cinema de horror e do fantástico!


07 dezembro 2014

Momentos (XXIII)






"Do you believe there is a demimonde? 

A half world between what we know and what we fear?"


Penny Dreadful - Night Work