Numa constante encruzilhada, a ambiguidade ensombra-nos a
visão, tolda-nos os passos. Ela nunca sorri, devolve-nos apenas um olhar vazio,
ausente. Tentamos imaginar o abismo em que ela se encontra, impotente, achamos
que um sentido olhar de preocupação é suficiente para a impedir de cair. “Depression is the inability to construct a
future.” Mas agora, esse futuro está à pequena distância de um comprimido
por dia. Acenamos, o psiquiatra bem-parecido só pode inspirar confiança, tal
como os anúncios sorridentes que pululam de gare em gare. E depois, um crime é
cometido. Em choque, procura-se uma explicação. A dúvida surge, subtil e
traiçoeira. A questão não é quem foi, antes de quem é a culpa. Uma tríade de
suspeição. Eventos precipitam-se, vidas são interrompidas. A incerteza cresce e
cresce, num galope de tensão. A moralidade esbate-se perigosamente, num limite
cada vez mais vago entre dever e verdade. E de súbito, desilusão.
Frustante. É dessa forma que Soderbergh nos trata. Presenteia-nos
com uma premissa inteligente, desafiante e actual. Tem uma Rooney Mara camaleónica
e carismática, num misto apaixonante de vulnerabilidade, manipulação e pura
maldade. Por que diabos achou que uma vendetta
era a forma ideal de fechar o jogo? Sinceramente, para um filme que explora de
modo frontal e provocador temas tão sensíveis, este final soube-me a pouco.
Ligeiramente preguiçoso. A duplicidade das suas personagens era o seu maior
trunfo. Com esta resolução, parece que nos querem convencer da “bondade” e
razão suprema de um dos lados. Que efeito adverso este!