25 maio 2013

Side Effects






Numa constante encruzilhada, a ambiguidade ensombra-nos a visão, tolda-nos os passos. Ela nunca sorri, devolve-nos apenas um olhar vazio, ausente. Tentamos imaginar o abismo em que ela se encontra, impotente, achamos que um sentido olhar de preocupação é suficiente para a impedir de cair. “Depression is the inability to construct a future.” Mas agora, esse futuro está à pequena distância de um comprimido por dia. Acenamos, o psiquiatra bem-parecido só pode inspirar confiança, tal como os anúncios sorridentes que pululam de gare em gare. E depois, um crime é cometido. Em choque, procura-se uma explicação. A dúvida surge, subtil e traiçoeira. A questão não é quem foi, antes de quem é a culpa. Uma tríade de suspeição. Eventos precipitam-se, vidas são interrompidas. A incerteza cresce e cresce, num galope de tensão. A moralidade esbate-se perigosamente, num limite cada vez mais vago entre dever e verdade. E de súbito, desilusão.







Frustante. É dessa forma que Soderbergh nos trata. Presenteia-nos com uma premissa inteligente, desafiante e actual. Tem uma Rooney Mara camaleónica e carismática, num misto apaixonante de vulnerabilidade, manipulação e pura maldade. Por que diabos achou que uma vendetta era a forma ideal de fechar o jogo? Sinceramente, para um filme que explora de modo frontal e provocador temas tão sensíveis, este final soube-me a pouco. Ligeiramente preguiçoso. A duplicidade das suas personagens era o seu maior trunfo. Com esta resolução, parece que nos querem convencer da “bondade” e razão suprema de um dos lados.  Que efeito adverso este!


16 maio 2013

The Perks Of Being A Wallflower






Tem a ternura da nostalgia sobre um passado que nunca foi meu, mas que podia ter-me pertencido. A irreverência de não ser mais um contorno na multidão, antes majestoso e único como um floco de neve (os desajustados são mesmo assim). Destemido na forma como desbrava as complexidades e dilemas da longa estrada entre a adolescência e a idade adulta, encosta-nos à parede. Porque de uma forma ou de outra, todos nós já estivemos ali. Uma vez houve que nos apaixonámos, que nos quebraram o coração, que nos sentimos sozinhos e estranhos, que fomos amados, que olhámos para o futuro receosos do que nos tornaríamos ou com medo de não alcançarmos o que um dia sonhámos ser. Que carregámos demónios, nossos e de outros, numa luta interior cujo resultado pesava por ser incerto. E, por isso, “The Perks Of Being A Wallflower” desvirtua eximiamente o seu injusto rótulo de filme “teen”. Possui tanto de seriedade como de atrevimento na sua abordagem. É caótico sem deixar de ser sóbrio, é profundo sem esquecer que, num repente, é igualmente saudável romper numa dança desenfreada quando ouvimos uma música realmente excelente. Ezra Kane, depois do perturbador “We Need To Talk About Kevin”, é novamente assombroso, construindo a personagem mais carismática desta história. Emma Watson consegue ultrapassar a barreira do ser simplesmente adorável e Logan Lerman conjuga admiravelmente timidez e coragem. 

Right now we are alive and in this moment I swear we are infinite”, ouve-se em pano de fundo, em jeito de cântico, e posso jurar que me despedi deles com um sorriso de velhos amigos e uma lágrima de familiaridade.






04 maio 2013

Ágora






Na ágora foi senhora e mestre; na ágora tombou às mãos dos carrascos da intolerância e do horror. 






Ágora, reconstituição histórica dos últimos anos de vida da filósofa e matemática Hypatia, não alcança a grandeza da sua musa. Rachel Weisz é cativante mas não memorável; à narrativa, embora apelativa, falta-lhe algum arrojo no desenvolvimento das suas personagens e situações. Ainda assim, é eficaz ao mostrar tanto o absurdo como o terrível do fanatismo religioso, esse que destruiu tanto dos antigos palcos do conhecimento. Simultaneamente, é belo o modo como desenha a evolução do pensamento científico, persistência e raciocínio em comunhão com a simplicidade e simbolismo das formas da Natureza. 





You don't question what you believe, or cannot. I must.