Se me pedissem para descrever o filme em breves palavras, de imediato diria: visceral, meticuloso, agonizante e belo. Desde logo, pelo genérico inicial: uma intensa e tumultuosa viagem ao subconsciente das personagens; medos, segredos, fantasmas e desejos num fundo de escuridão e fogo, sob o hino agreste e reinventado de “The Immigrant Song”. Momento que define irremediável e provocantemente o tom do filme: sem limites, sem receios, David Fincher filma de modo vívido e engenhoso a crueldade, o horror e a violência que Stieg Larsson tão cruamente escreveu. O argumento é minuciosamente explorado, contudo a narrativa decorre de forma bastante fluida, distanciando-se do seu homónimo sueco por ser ainda mais agressiva e brusca. Tal deve-se igualmente à indescritível banda-sonora, prodigioso trabalho de Trent Reznor e Aticus Ross que nos envolve numa atmosfera tensa e sufocante de mistério e dor. Atmosfera essa extraordinariamente personificada por Rooney Mara, que com uma entrega surpreendente e arrepiante compõe, de forma fiel, o turbilhão que é Lisbeth: forte, inteligente, vulnerável, frontal, doce, lutadora, torturada e implacável. A seu lado, um desgrenhado e inquisitivo Daniel Craig assume habilmente a integridade e o charme de Mikael Blomkvist.
Inebriante e perturbador, “The Girl With The Dragon Tattoo” distingue-se da versão sueca pela sua completitude e cadência que o tornam mais eloquente e labiríntico, num impetuoso conto de perversão e maldade humanas em que a esperança surge efémera e gélida.