A sua simplicidade possui algo de perturbador. A cena inicial, de sólidos minutos, é perfeita na sua demonstração. Impávida, cruel, desumana. Estamos, afinal, perante uma “História de Violência”.
O filme segue na sua turbulenta tranquilidade, na agonia de uma metamorfose em suspenso que subitamente se concretiza. Terá Tom (Viggo Mortensen) perdido parte da sua essência ou simplesmente recuperado algo há muito suprimido? A resposta é rápida e dolorosa. E esse simples olhar de Tom nunca será certamente esquecido pelo espectador. Nem pela sua família, repentinamente face a um estranho a quem chamava pai ou marido. Por quem agora só sentirão ódio e repulsa, no confronto com um cobarde ou na sombra de um vão de escadas.
Viggo Mortensen oferece-nos uma magistral interpretação, perfeito e tortuoso camaleão entre vulnerabilidade e violência, entre repugnância e redenção. A seu lado, Maria Bello é surpreendente no seu desconforto e na sua raiva. William Hurt e Ed Harris surgem como temerosos secundários. David Cronenberg, por sua vez, assina um fascinante e sufocante ensaio sobre a natureza humana.